sábado, 13 de junho de 2015

O Doador de Memórias (The Giver)

Filme simplesmente fantástico! Há tempos eu não compartilhava uma análise, mas esse trouxe o desejo de registro. Trazendo a mensagem mais simples e mais complexa da vida, que é a do amor, este enredo me despertou emoções.


Com o tema do amor tão presente nos últimos dias permeando o inconsciente coletivo, vejo esse momento como uma sincronicidade, um presente do Universo.

 A história do filme se inicia com uma comunidade que foi construída depois de uma ruína. E hoje todos na comunidade vivem com uma vida em perfeita harmonia, sem desigualdades, medo, dor ou inveja! Nessa comunidade habitam diversos seres humanos, cujas famílias vivem em iguais condições, seja de saúde, educação e comportamento. Sim, isso mesmo.... Comportamento! No filme, foi encontrada uma maneira de manipular os seres humanos, de forma que nenhum precise sentir o desconforto da dor, da doença, do sofrimento. Afinal de contas, em sã consciência é o que todos nós buscamos.

Todos os dias pela manhã, os seres humanos dessa comunidade recebem uma injeção, que segundo a “governança” do local, chamada de Os Anciãos, é feita para manter a saúde. Na verdade, a injeção reprime os instintos, os sonhos, e ao meu ver, serve como um bloqueio ao inconsciente.

Na comunidade também existem regras de convivência, como por exemplo não mentir, não ter contato físico com outro ser humano em público, usar somente as roupas designadas e obedecer ao toque de recolher.

Gosto de interpretar uma história pensando que ela compõe os nossos próprios personagens internos. Ou seja, Os Anciãos nada mais são que o Ego doente, contaminado por exigências sociais da perfeição, em uma eterna dança com a sua Sombra. Os Anciãos controlam e acompanham a vida de cada indivíduo da comunidade.

Há anos a comunidade funciona bem nesse modelo, porém, surge um rapaz, chamado Jonas, capaz de captar uma sensibilidade única, que é a de sentir a emoção como um ser humano normal. Ao fazer algumas viagens pelas memórias humanas, ele consegue vivenciar as aventuras da vida, o prazer de ver as cores, sentir o vento, a neve, o gosto de um beijo, o abraço, a guerra, a morte, a dor. Essas viagens são realizadas com a ajuda de um homem sábio, mais velho, que o conduz.

O filme nos possibilita entrar em contato com algumas imagens arquetípicas como:

- Herói – Jonas, recebedor das memórias
- Velho sábio – doador das memórias
- Amante – Fiona, projeção de amor do Jonas
- Inocente – bebê Gabriel
- Governante e criador – Elder, chefe dos Anciãos

Além das figuras arquetípicas, esse filme traz a transformação alquímica, pois inicia a história toda nas cores preta e branca, pois na comunidade não há cores, para não existir desigualdade. Quando Jonas inicia o treinamento de resgatar as memórias dos sentimentos humanos, a primeira transformação que ele passa, é a de enxergar as cores, sendo a vermelha a primeira delas. O vermelho dentro das fases da transformação alquímica, representa a rubedo, o quarto e último estágio da alquimia. Significando a Iluminação.

Dentre muitos ensinamentos da história, alguns me chamaram a atenção como quando o sábio explica para o herói que ter fé, é enxergar além. Só quem tem fé, ama. Só quem fé, tem esperança. Isso lembra muito o nosso querido Dom Quixote, sonhador, que nos diz que loucura é nos limitar em ver a vida como ela é, e não como ela deveria ser.

O filme traz de uma forma singela o segredo da humanidade, o cálice do Santo Graal, o troféu do herói... Aquilo que buscamos o tempo todo e está dentro de nós. Somente com a descoberta do sagrado que habita em nós mesmos, é que nos libertamos.

O amor também é acompanhado da dor, é inevitável.

Muitas vezes a vida nos traz tanto sofrimento que deixamos de lado o amar, e permanecemos em nossas comunidades egoicas, falsamente protegidas. Lembrando aqui, que amar é cada atitude, cada olhar, cada cuidado que temos conosco e com os outros. Amar é poder escolher.

Parafraseando o filme: Quando não há memórias, a liberdade é apenas uma ilusão.

Não vou entrar em detalhes sobre o final do filme, deixando apenas a bela impressão que tive. Afinal, nessa vida, o mais importante não é o destino final, mas sim o percurso.

Fecho o post, com a seguinte provocação:


Quais são as verdadeiras memórias que compõe a sua história? Qual é o seu legado?