domingo, 28 de agosto de 2011

Modelos Mentais

E assim segue o dia-a-dia, a humanidade, o pensamento cíclico e os hábitos quase que imutáveis. Às vezes me pego pensando o quanto ingrata é a profissão do Psicólogo. Porém, como acredito que tudo na vida tem uma polaridade, percebo (e ainda mais satisfeita) o quanto é nobre o trabalho de ampliar a percepção das pessoas.
É inevitável se deparar com a expectativa e com a imaginação que nossa mente cria diante dos fatos. Aqui não faltariam exemplos para especificar isso, seja o novo emprego, a notícia que saiu no jornal, o seu colega de trabalho, o professor, o vizinho, o novo relacionamento, o antigo relacionamento... Para todos esses fatos e personagens a mente criará um pré-conceito.
Pode ser que seja algo que a mente produziu, reproduziu, ou o que é mais comum, o pensamento que surgiu e foi produto de um Modelo Mental.  
O Modelo Mental, segundo a psicóloga Susan Carey ‘’[...] representa o processo de pensamento de uma pessoa para como algo funciona (entendimento do mundo externo/o redor). É baseado em fatos incompletos, experiências passadas e até mesmo percepções intuitivas. Ajuda a moldar ações e comportamentos, influencia o que será considerado mais relevante em situações complexas e define como indivíduos confrontam e resolvem problemas. ’’


E aí surge o desafio, como ampliar essa percepção? Situação essa que precisa começar de um primeiro passo que parece ser simples. A admissão e o reconhecimento destes pensamentos.
O primeiro passo é aceitar. Não é a toa que nas reuniões dos Alcoólicos Anônimos (AA) o primeiro dos 12 passos é: ‘’Admitimos que somos impotentes perantes o álcool’’.
Este passo significa – vamos derrubar a primeira barreira, o orgulho, abraçar o lado frágil, permitir que ele se manifeste e que a porta para o encontro com os sentimentos seja aberta.
Não é preciso ser um membro do AA para perceber que esta prática deveria ser adotada no dia-a-dia diante das dificuldades. E o que acontece atualmente, é que a sociedade não admite que as pessoas tenham dificuldades. O que se vê hoje é a divulgação de manuais para driblar as dificuldades e sair por cima. E será que se encerra assim mesmo?
Será que o driblar não poder ser tido também como uma fuga dos próprios sentimentos em prol do que a ‘’maioria’’ acha o certo?
Encerro esta reflexão com as palavras sábias da oração da Serenidade. Independente de qualquer crença e ensinamento creio que todas as religiões têm ensinamentos importantes para nós humanos.

‘’Concedei-nos, Senhor, a Serenidade necessária
Para aceitar as coisas que não podemos modificar,
Coragem para modificar aquelas que podemos,
E Sabedoria para distinguir umas das outras.’’

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Filme – Midnight in Paris (2011)


Imaginação versus drama real é o tema abordado no filme Meia-noite em Paris (2011).
A agradável obra de Woody Allen retrata um conflito entre o mundo real e o mundo imaginário. No lado real estão presentes os convencionais papeis humanos – noivos, sogros, sogras –, passeios, viagens turísticas, conhecimento teórico, nenhum envolvimento emocional a respeito da história, valorização do bem material e do status. Enquanto que, no lado imaginário (Belle Époque) encontram-se personagens idealizadores, questionadores, incomuns, instigantes, repleto de significados, ambiente sem censuras e natural.
A dúvida plantada nos personagens ‘’reais’’ do filme é a mesma que fica para nós, expectadores: Afinal de contas, era apenas imaginação?
Penso que o filme retrata sim a imaginação e mais especificamente a Projeção do personagem Gil (Owen Wilson) – onde desde o início mostrou o seu desconforto consigo e com a situação que escolheu. Por isso, os acontecimentos em que se envolveu só o puxaram para as indagações que lhe incomodavam, fossem nas conversas imaginárias, quanto nas reais.
E se foi imaginação ou não, o fato é que foi um fato decisório para a escolha final do personagem.
Na ânsia de escrever uma história que impressionasse a humanidade, Gil buscou respostas através de uma tentativa desesperada de fugir da realidade. Porém, isso o fez se deparar mais ainda com suas Projeções.
Projeção para a Psicologia, especificamente para a Psicanálise - Consiste em atribuir ao outro um desejo próprio, ou atribuir a alguém, algo que justifique a própria ação.
Durante a história Gil se deparou com diversos personagens que lhe agregaram algum sentido e que o fizeram se desenvolver para então poder refletir isso em seus romances – afinal de contas – “Não existe uma história ruim, se o conteúdo for verdadeiro”. Dentre os personagens projetados, apareceram artistas renomados como Salvador Dalí, Toulouse Lautrec, Enest Hemighay, Zelda e Scott Fitzgerald, Pablo Picaso, Gertrude Stein, Cole Porter, Henri Matisse e Luis Buñel.
A história é muito rica e gostosa de ver, portanto não tenho como propósito abordar todas as cenas do filme, mas sim partes que me chamaram a atenção como estas abaixo:
- Um dos aspectos tratados em uma de suas projeções foi o medo da morte. Ao se deparar com os 2 primeiros personagens imaginários, Gil encontrou uma resposta surpreendente que lhe ensinou como aliviar este medo. O segredo estava na paixão. Descobriu que a sensação de sentir-se apaixonado e deixar ser consumido pelo ato, faz a morte nada significar. (Eros)
- Entre tantas outras projeções que apareceram no filme, achei interessantíssimo o momento que Gil deparou-se com o seu lado feminino – sua Anima (imagem da alma feminina) – personagem Adriana, que lhe mostrou um lado de paixões incontroláveis, ilimitadas, feminilidade, jeito único, sonhador, encantador e ao mesmo tempo simples. Porém, ficou clara a aparição da Anima, pois ela o incorporou significativamente, mesmo sem ser fisicamente. E no fim, ela permaneceu no plano ideal da Paris dos anos 20.
- O filme encerra com o personagem Gil sentado sozinho, com um copo de cerveja, em meio a linda Paris do século XXI, deparado com a sua realidade após uma longa viagem em si mesmo. Essa cena me lembrou um pensamento de Schopenhauer do qual diz que ”a felicidade é a ausência de sofrimento”.

E como não dizer que esta obra se trata de uma pura Projeção do próprio autor Woody Allen?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O que sucede o ponto?

A vida pode ser poesia,
Poema curto,
Uma longa história.

Por vezes extrapola vírgulas,
Apresenta uma só frase,
Ou estrofes diversas.

Que essa prosa seja eterna,
Quanto a intensidade de um verso,
Que faz na letra o que na vida se encena.

"Fingindo ser poeta" em uma terça-feira a noite.. (que tal *Fernando Pessoa?)



*AUTOPSICOGRAFIA
 
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

 

Fernando Pessoa