sábado, 30 de abril de 2011

A Metonímia Social

Liguei a TV sexta-feira e só se falava em uma coisa: O Casamento Real do príncipe William e de Kate Middleton.
Eis o rito profano - em se tratando de alteração de status e diversos pequenos rituais, e o rito sagrado na visão das pessoas do mundo todo. O príncipe eleito como o Herói e a moça escolhida. William é considerado pela sociedade como o Herói que nasceu em uma família rica, com uma mãe endeusada pela população, representada pelo ideal de mulher - bonita, poderosa, com visão social - e com um pai visto como um homem de valores desviados - traidor, prepotente e frio.

William, que nasceu em uma família nobre e cheia de status, mas que apesar disso iniciou a sua trajetória, buscando a autonomia, após a morte de sua mãe Diana. Neste caminho encontrou a mulher com quem decidiu realizar a troca de papéis sociais e realizar o rito de passagem, oficializando-se para a sociedade. Enfim, esta é a história de novelas e de filmes que aconteceu na vida real e que fascinou boa parte da população do planeta.

Este é o romance ideal existente no sonho e no objetivo de vida de várias pessoas, principalmente nas mulheres (ocidentais e orientais). É a esperança de que ainda existe a perfeição e a felicidade. Porém, a realidade é diferente, e é certo que este mar de rosas não será eterno.
Mas o que mais instiga nessa história é o fato da sociedade ‘’perseguir’’ a história deste casal e se apoiar nela para alimentar as próprias fantasias.
Este movimento caótico da mídia e das pessoas em volta deste fato me faz pensar em uma Metonímia Social que existe atualmente.
Metonímia é a classificação de um conjunto de palavras que são utilizadas como figuras de linguagem para representar um significado. Por exemplo: Eu só vou ser feliz se eu me casar (causa e efeito). Sendo assim, o casamento representa a felicidade.
Este exemplo citado é o que se percebe em muitas jovens de hoje. Porém, não precisa ser visto somente com o casamento. Esta é UMA condição, mas existem diversas outras. O que preocupa é quando a pessoa vive nesta fantasia de que somente será feliz se acontecer isso ou aquilo e esquece de que ela é a protagonista da própria vida, é ela quem precisa fazer o próprio show e buscar a autonomia.
Pode até ser que tenham mulheres que não se identifiquem com a Kate Middleton, mas como a maioria da sociedade atribuiu um significado de ser ideal para ela é este que trará o impacto e o resultado (como o alto número de notícias nesta última semana).
Não são somente as crianças que se encantam com os contos de fadas. Pelo visto eles são necessários no cotidiano para trazer o equilíbrio em meio a tantas tragédias reais.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Futebol x Religião

Eis um tema (ou melhor, dois) polêmico!
Tudo começou numa tarde de segunda-feira quando eu estava em uma palestra, cujo instrutor era fantástico e admirável. Porém, questionei alguns dizeres daquele ilustre homem, um deles foi: “Precisamos dar o devido valor a vida, utilizar o tempo com cultura e atividades úteis e não desperdiçar tempo com essa bobagem chamada futebol como vemos hoje em dia”.
Uau! O corpo esquentou nessa hora e remexi na cadeira. Duas palavras não saíram da minha cabeça desde então - Futebol e Religião. Serão estes tão diferentes assim? Podemos julgar um útil e o outro inútil?
No post anterior falei sobre o vício do amor não correspondido que pode ser comparado ao mecanismo de viciados em drogas e em religião. Agora quero acrescentar um vício chamado futebol.
E o que tem a ver o tal jogo de bola com os pés e a Religião?
Tudo!
Religião vem do termo religio – “prestar culto a uma divindade’’. É um conjunto de crenças, ritos, cultos, tem objetivos, valores e valorizam uma ou várias figura(s) divina(s), tem seus símbolos representativos e pode ser considerada como um estilo de vida. Em qualquer religião existe uma figura do Herói, um conjunto de pessoas com os mesmos objetivos, uma cultura, uma crença que ultrapassa gerações, pessoas que agem para o “bem” e pessoas que agem para o “mal”. Alguns que entram em contato consigo e outros que apenas fogem da realidade através da religião.


No Futebol também! Existem diversos times, cada um com suas crenças. Há jogadores que são considerados ‘’anjos’’, há aqueles que são “demonizados” pelos torcedores. Existem pessoas que dividem as mesmas crenças e hábitos, consideram dias da semana como sagrados, vão aos jogos de seus times para torcer e espairecer ou apenas os utilizam como pretexto para expandir uma violência interna. E ainda, tem o momento do êxtase do Gol que serve como o perdão a todos os pecados cometidos pelo time, assim como tem o convite para o inferno para aqueles jogadores ou treinadores que falham. Existe até mesmo aquele comprometimento de pagar o ingresso ou ser um sócio para favorecer o crescimento e mantimento do clube.
Por que não dizer então que existem pessoas hoje que acreditam e crêem em uma Religião chamada Futebol?

Por que não então?

domingo, 24 de abril de 2011

A Loucura Real

Desde os primórdios da humanidade existem os Loucos e os Sãos. Foucault, em seu livro História da Loucura (1961) detalha bem tal fato. Entre conceitos de Biopoder e Liberdade ele traz os fatos, de forma geográfica e historicamente, que existiram em que o atual louco era visto como um médium, um ser sagrado da sociedade que deveria ser tratado como uma divindade. Assim, como existiram épocas em que o louco deveria ser preso e torturado como se não fosse um ser humano digno de respeito.


Assistindo ao filme Shutter Island (A ilha do medo) tive alguns insights. Embora o filme retrate a psicose de um doente mental, ele tem uma mensagem muito interessante. O ator principal, Leonardo DiCaprio, é o personagem Teddy Daniels – No início do filme representa um detetive que está investigando o desaparecimento de um paciente da Shutter Island Ashecliffe Hospital.
O filme se passa no ano de 1954, e neste hospital citado eram realizadas experiências anti éticas e brutais com os pacientes, afim de realizar algum progresso para a ciência.
No desenrolar da trama, Teddy Daniels teve sérias dificuldades de encontrar informações com os pacientes e médicos do hospital. Em alguns momentos foi fácil de confundir o real com a imaginação do personagem. Mas no decorrer da trama foi possível perceber os deslizes cometidos por sua mente. E então surgiu o fato impressionante – Teddy Daniels era um paciente psicótico do próprio Hospital que mergulhou em sua ‘’verdade’’, inventando uma personificação de Detetive para suportar o fato real que ocorreu na sua vida.
Teddy deixou ser dominado por esta ideia para poder ‘’fugir’’ da sua triste realidade. Anos atrás, sua esposa - em um surto sério de depressão, matou seus 3 filhos pequenos. Com raiva, Teddy (que tem como nome verdadeiro Andrews) matou a esposa. Impedido de admitir o fato para si, encontrou um meio para sobreviver através da fantasia. Porém, na história, o inconsciente – afim de encontrar o equilíbrio – busca o consciente em forma de círculo vicioso.
O filme retratou uma realidade muito dura e cruel. Mas fiquei pensando quanto aos acontecimentos diários das pessoas. Quantas vezes não é mais fácil se esconder vivenciando uma fantasia do que suportar uma realidade? Seja quando nossos entes queridos falecem e por não suportar tal fato negamos que ele exista. Seja quando um amor vai embora. Seja quando prejudicamos uma pessoa para nos favorecer. Seja para fingir que está tudo bem quando nada está bom. Seja quando fugimos do mundo nos entorpecendo de alguma forma.

Quantas vezes a Loucura nos cai melhor que a Sanidade?

“A Psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da Psicologia.” (Michel Foucault)



sábado, 23 de abril de 2011

...

"O encontro de duas personalidades assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas: se alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação"

C. G. Jung

...

Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.

Fernando Pessoa

Amor, Vício ou Cultura?

Certa vez, quando realizava uma entrevista com um candidato à vaga de emprego, uma pessoa que acompanhava o processo me falou: ‘’vamos perguntar se a pessoa está namorando, se estiver vai ganhar um ponto a mais, pois isso demonstra estabilidade’’.
Naquele momento não discuti a questão, mas cabe uma reflexão sobre esse pensamento:
Uma pessoa que mantém um relacionamento há um certo tempo com outra, demonstra estabilidade? Pode ser que sim, pode ser que não. Eis um tema complicado para descrever: o Amor.
Existem diversos tipos de amor, o amor fraterno, amor homem mulher, amor materno, amor paterno, amor romântico, amor cortes... E existem diversas palavras que remetem ao amor: vontade, desejo, paixão, querer, sentir, assim como existem dependência, vício, necessidade, solidão, carência.

Mas não é simples? Se estou com alguém é porque amo esse alguém? Não!
Infelizmente as coisas não são tão simples quanto deveriam e poderiam ser. O amor está sempre em movimento. E se ele está estagnado traz o sofrimento, pois se está estagnado é porque está sendo mal distribuído e isso pode gerar o sofrimento. Amar o outro não significa ser feliz somente com o outro. Muito menos achar que este traz a completude, quando deveria trazer o complemento. Para o ser humano, principalmente, o que vive aqui no Ocidente, o amor é uma mistura de crenças, paradoxos, valores, idéias, expectativas e ideais que normalmente não são correspondidos. As projeções lançadas no outro podem até ser supridas no primeiro momento, mas após um tempo geram as frustrações, pois ninguém consegue ser o Ideal de outrem o tempo todo. Portanto, se uma pessoa não consegue separar o que é dela e o que é do outro dificilmente encontrará a felicidade no relacionamento. É aí que surgem as pessoas que amam desesperadamente e buscam inconscientemente um amor que não é saudável. Todo ser humano tem dentro de si um pouco de homem e um pouco de mulher (Animus e Anima). Quem não compreende isso em si vai procurar o equilíbrio no outro.
Este mecanismo é muito parecido com as pessoas que se viciam em drogas. O amor romântico pode ser comparado com o vício das drogas e da religião. A dopamina liberada no cérebro do viciado em cocaína é a mesma que é liberada na pessoa que ama alguém que só a faz sofrer. Este é um movimento que o ser humano faz buscando inconscientemente a sua totalidade. Essa totalidade (ideal) que é mostrada nas novelas, filmes, peças de teatro, etc. que fazem tanto sucesso. Embora, a característica da cultura Ocidental hoje seja a de buscar a explicação e “cientificar” todos os fenômenos, sempre ter razão e achar que o que é daqui é mais certo do que o de lá, os humanos ainda buscam o ‘’amor cortes’’.
Esse ideal de amor romântico pode ser considerado como uma ferida psíquica da sociedade Ocidental. E aí eu me questiono: Onde fica o encontro com a alma nesta concretude e objetividade moderna?
Para os que desejarem entender mais sobre o assunto penso que uma boa leitura seria o We – A chave da Psicologia do Amor Romântico (mito de Tristão e Isolda)
Um pouco mais sobre Tristão e Isolda –

terça-feira, 19 de abril de 2011

Racionalizando Imperfeições

Freud, dentro da Psicanálise, afirmou que o ser humano desenvolveu alguns mecanismos de defesas para defender o Ego. Dentre eles temos alguns mais frequentes como a negação, sublimação, projeção, regressão, entre outros. Porém, um deles sempre me chamou mais atenção – é a Racionalização. “Ôô” mecanismo chato de ser percebido. Infelizmente vejo que este vem se fazendo presente cada vez mais no ser humano. E do que se trata a tal da racionalização? Eu diria que é uma disfunção no nosso pensar, da nossa função Pensamento, na qual esta se sobressai de forma disfuncional quando uma situação foge do controle. Os Psicanalistas preferem dizer que racionalização é uma mentira inconsciente que se põe no lugar do que se reprimiu. Já os Behavioristas diriam que esta é uma forma de fuga/esquiva de uma determinada situação. Enfim, existem diversas teorias da Psicologia que explicam um mesmo fato humano – a habilidade inconsciente de encontrar uma explicação para uma situação a qual não saiu como eu esperava /ou da qual eu não me sai como esperava. Exemplo: Errei no resultado do meu projeto, porém eu errei porque o computador estava com um sistema falho. Errei porque alguém/algo interferiu no meu trabalho.
Com isso, não entro em contato com o que realmente de fato aconteceu nesta situação e permaneço alienado a mim mesmo. Escorregando nas mesmas teias que eu mesmo faço.
Aqui o exemplo é micro, vem do dia a dia humano. Mas trazendo esse exemplo para o macro é ainda mais grave. Por exemplo, a situação que me deixou indignada semana passada: O governo voltou a falar sobre o desarmamento da população brasileira, justamente quando ocorreu um fato chocante com um indivíduo doente que invadiu uma escola e matou várias crianças. Por quê? Para demonstrar que a culpa está na legalização ou não das armas? Meu Deus! O buraco é muito mais em baixo! Porém, é muito mais fácil racionalizar a imperfeição de um sistema tampando o sal com a peneira. É mais fácil para a população massificar uma opinião frente uma desgraça e fingir que vai ficar tudo bem. É mais fácil alienar um grupo que não teve oportunidade de entender o porquê é mais confortante racionalizar um problema do que realmente entender porque ele existe.
Com isso, fecho o post – Qual é a vantagem de investir na educação e no pensar, se o governo não puder garantir que o que vai passar nos jornais e revistas de mais acessos serão a opinião do povo? Qual é a vantagem de investir na educação e correr o risco de desestruturar a tal ‘’democratização’’ existente na teoria?
Volto a dizer.. O buraco é muito mais em baixo.
“As convicções são as inimigas mais perigosas da verdade, mais do que as mentiras”
F. Nietzsche

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Organizações Tertulianas?

Vivemos mais do que nunca na era do Intelecto, na era da Tecnologia e da Informação. Na teoria, pessoas que são capazes de realizar suas escolhas. Mas que pode não ser bem assim na prática. Me surgiu esse questionamento quando estava estudando sobre Tertuliano e Orígenes no livro Tipos Psicológicos do Jung. Para quem quiser saber mais sobre - http://www.stum.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=07271.
Resumindo, os dois foram padres na época da Idade Média, onde predominava o Cristianismo. E também predominava a Universalização de crenças e criação de paradigmas sociais. Nesta época se fixava para toda uma história os conceitos de céu, inferno, pecado, diabo e sacrifícios em geral. Tertuliano era um apaixonado, e me refiro aqui a paixão cega. Aquela que domina os pensamentos e sacrifica as demais idéias. Ele era a favor do sacrifício intelectual (sacrificius intellectus) para dedicar-se a uma crença específica. Ele foi um dos mentores da Santa Inquisição. Já Orígenes, outro padre da época pensava o oposto (novamente a questão dos opostos que equilibram a humanidade). Para este o pensamento era o primordial, juntar os conhecimentos, sejam eles referentes a Bíblia, filosofia, vida, enfim era o que chamou-se de gnosticismo. É interessante como a sociedade tende ao equilíbrio sempre. Nesta situação, quando uma idéia predominava e ‘’cegava’’ a população, surgiam questionamentos que faziam com que não fosse possível esta dominação. Esta é uma situação que tende a gerar uma mudança, mesmo que seja através de dor e sofrimento, como é a história que seguiu-se desta.
E aí surge o questionamento...  Por qual viés as empresas de hoje estão seguindo? Em uma visão rígida e histórica, ou uma visão inovadora e empreendedora? Ou serão as duas?
Vejo que essa dualidade permanece e é necessária no mundo organizacional. Para poder se diferenciar é preciso que exista um modelo pré-existente. Existem organizações hoje que são altamente pragmáticas, rígidas e perfeccionistas, onde é preciso que a pessoa pense exatamente como os valores da mesma e se não pensar como tal, a porta da rua é serventia da casa. Já outras empresas (poucas ainda) valorizam o pensar, a inovação, a imaginação como um espaço de liberdade e criação. Inclusive estimulam o funcionário a pensar e produzir idéias novas.
Aí existe também um porém, quando falamos de organizações falamos de pessoas! E portanto, não existe como paradoxizar todos os seres humanos ou toda uma organização. É necessário que exista a diferença para que as pessoas escolham aquelas com as quais se identificam (e aí o buraco é mais embaixo, será que as pessoas sabem com que tipo de organização se identificam? Será que as organizações estão cientes de suas culturas e do que estão oferecendo e buscando para si?)
Desta forma, precisam existir os diversos tipos de organizações. Indo mais além um pouco, acredito que esta dualidade possa existir dentro de uma organização. Pois, se ela é totalmente ‘’tertuliana’’, rígida, ela não sobrevive com a concorrência. E se ela é totalmente ‘’originiana’’ não existirá o foco e o respeito em tudo aquilo que antecedeu na história da mesma. Portanto, é necessário a dualidade para a sobrevivência. Vejo que precisa existir aquele setor quadrado que não pode realizar as mudanças contínuas, que cada alteração na estrutura deve ser bem pensada e planejada, como por exemplo, em um setor financeiro. E os demais setores que precisam da inovação e das mudanças diárias para manter e atrair os clientes.
E esta é a vida, seja nas organizações, na vida pessoal, não existe um manual. Existe o conhecer, o pensar, o refletir e principalmente saber/descobrir o que se quer!
Por isso é tão importante para uma organização que todos os funcionários estejam cientes sobre as políticas, valores, missão e visão. É preciso que eles conheçam a empresa e se conheçam para saber se os ‘’quereres’’ estão de comum acordo.

domingo, 10 de abril de 2011

Filme – Closer Perto demais (2004)


Eis um fantástico filme que traz a problemática do ser humano!
O filme retrata a história de 2 homens e 2 mulheres. Todos eles possuem algo em comum: uma estrutura frágil, um ego dependente do Outro e uma Persona enfática.
 A atriz Julia Roberts interpreta a personagem Anna, fotógrafa bem sucedida que foi deixada pelo ex-marido, pois o mesmo a trocou por uma mulher mais jovem. Ela demonstra ser uma pessoa séria, ética, trabalhadora, comprometida e reservada. Levemente depressiva.
O ator Jude Law interpreta o personagem Dan, escritor que publicou recentemente uma obra baseada na vida da moça com quem vive, Alice. Tem uma visão crítica da sociedade e é um homem sensível, que com freqüência no filme acessa um complexo - em diversos momentos mostra a fragilidade frente a situações que tem a sensação de abandono. Em alguns momentos é apresentado no filme como o Herói (Cupido).
 Alice, interpretada pela excelente atriz Natalie Portman (recentemente soube que ela é formada em Psicologia, isso explica algumas questões, ou melhor, isso gera mais questões) é uma menina doce, dependente, apaixonada, trabalha como garçonete e a principal razão da vida dela é o amor que sente pelo Dan. Porém, Alice é uma identidade assumida pela pessoa que tem o nome verdadeiro de Jane Jones.
Larry, interpretado pelo ator Clive Owen, é um médico dermatologista (talvez mera coincidência) que demonstra ser um homem com características perversas, fissurado em sexo, poder e que se auto define como o observador clínico das pessoas. Julga-se e busca ser melhor que os outros, principalmente se forem homens. Demonstra ser uma pessoa mais instintiva, porém racional (se é que isso é possível).

O romance começa com o encontro de Dan com Alice, uma menina rebelde que está machucada precisando de ajuda, dentro de um hospital, onde a função de cuidador aparece quando Alice está com o joelho machucado e Dan a ajuda. Neste momento ela se entrega ao “herói” que vai tirá-la desta situação crítica. Ela se sentiu tão protegida que entrega sua alma a esta relação fantasiosa.
O problema surge quando, um tempo depois, Dan precisa tirar fotos para o seu livro e procura Anna. Logo no primeiro encontro ele se interessa por ela, lógico, ela tem a aparência de uma mulher bem resolvida, forte, decidida e bela. Uma visão TOTALMENTE projetiva. Ela, que se insere o tempo todo como vítima (mesmo sem fazer isso conscientemente), se interessa pelo Dan também, pois ele a desafia. Ele desafia suas convicções e a faz entrar em contato com o lado sombrio até então adormecido. Os dois se beijam e descobrem ali um novo sentimento de completude (perigoso). Tão perigoso que, essa sensação de completude permeia todos os relacionamentos que ocorrem no filme.
Alice chega no studio de fotografia após a cena do beijo e percebe a situação. Ela começa a ver a sua fantasia sendo ameaçada e mostra ainda mais a sua dependência em relação a Dan, ao pedir para Anna tirar uma foto dela chorando.

Paralelo a isso, Dan para satisfazer o seu desejo pela Anna, entra na internet e conversa com um estranho, chamado Larry, fazendo-se se passar pela mesma. Satisfaz todas as fantasias momentâneas naquele instante, e para fechar marca um encontro no local chamado Aquário.
Porém, Anna, coincidentemente está no local na hora do encontro e conhece o homem estranho da internet que ela (que não era ela) conversou pela internet. Os dois acabam se entendendo e começam uma relação. Nesta ocasião o papel que é enfatizado é o de Dan, como o Cupido. Novamente, o interesse de Anna por Dan só aumentou. O Cupido é a figura de Eros na mitologia. Aquele que traz o amor, que é belo, angelical.
Anna, para fugir da imoralidade e das tentações proibidas, resolveu casar-se com Larry, mesmo não o amando e sentindo-se sozinha. Porém, com o passar do tempo resolve entregar-se a paixão por Dan.
Assim eles mantêm esse triangulo por um ano, quando decidem – Anna e Dan – contar aos respectivos que irão abandoná-los para viver a paixão a dois. Neste momento todas Personas do filme se INTENSIFICAM e é aí a diferença deste filme, que por isso é tão brilhante. Normalmente, no momento da crise o que aconteceria em um filme com um raciocínio ideológico, é a descoberta, a mudança. Porém, neste não ocorre.
Enquanto Anna e Dan se juntam, Larry se afunda cada vez mais no seu desejo de reconquistar Anna para mostrar-se superior a Dan e Alice foge da sua dor “desaparecendo” socialmente, sendo stripper em uma boate.


Nos encontros e desencontros do filme, Anna decide se divorciar de Larry, que então, lhe faz um último pedido: que ela faça sexo com ele. E ela aceita. Ela aceita porque se coloca no papel da vítima, no papel que faz parte da zona de conforto dela. Porque ela precisa sentir que está sendo punida de alguma forma. E então, Larry satisfaz sua vingança, pois sabe que este é o complexo de Dan – a sensação de abandono, o estar com o outro, deixar que o corpo seja dominado por outro. Incapaz de aceitar essa idéia, Dan abandona Anna e procura Alice novamente.
Porém, Alice não é mais a mesma. E nesta história (na minha opinião) foi a única que conseguiu transcender. Assumiu sua verdadeira identidade e prosseguiu sozinha na vida, mas desta vez segura de si.
Já Anna, voltou para Larry na mesma história sem graça que viviam antes (vitimizou-se novamente). Ambos ficaram sozinho a dois! Isso demonstrado claramente na última cena em que os dois estão na cama, mas sozinhos consigo mesmos.

sábado, 9 de abril de 2011

O equilíbrio dos Eus – Dionísio e Apolo

Que a dualidade existe é fato. Ela está presente no dia na noite, no céu e na terra, no amor e ódio, preto e branco, claro e escuro... São realidades que existem e acompanham a história do ser humano. É necessário que exista um para que seja percebido o outro. Assim como o homem precisa conviver com os outros para que seja percebida a sua existência.
O dia a dia é feito de paradigmas e dogmas. E cabe aqui um questionamento... Será possível afirmar que vivemos em uma sociedade dionisíaca, onde a idéia principal que se vive hoje é a da busca do prazer momentâneo, é o desejo sendo satisfeito e a minha possibilidade de poder escolher o que quero? Ou será que o ponto de vista apolíneo, onde é necessário existir um foco, um pensamento/razão, uma moral e verdade a serem seguidas, também está vigente? Claro que, se formos observar a grande maioria das pessoas, por exemplo, na sociedade ocidental (principalmente aqui no Brasil), o predomínio é de uma sociedade da era do prazer. Porém, também, a era do ter. Eu quero aquilo ou aquele, tenho aquilo ou aquele e sinto o prazer do TER (parecer ter). Tudo que se torna exagerado pede uma compensação de alguma forma. Essa é a ordem natural. Não há mal que nunca se acaba e nem bem que sempre se dure.
Vejo que a nossa sociedade de hoje está ‘’pedindo’’ ajuda. Esse pedido de ajuda pode ser notado na falta do sentido da vida, no número alto de suicídios (mais de um milhão de pessoas cometem suicídio a cada ano), doenças freqüentes e surtos em geral. Então, o que se vê hoje, é que por mais que uma pessoa tenha muito dinheiro e poder para adquirir todos os bens materiais, o outro lado dela está vazio - o lado existencial.
Portanto, não existe o modo certo ou errado, a sociedade assim ou assado. Existem os 2. Mas e o que fazer com esses pedidos de ajuda? Como fazer para que o ser humano recupere o reequilíbrio? Será este um problema de uma sociedade que universaliza padrões ou de uma que esqueceu os valores humanos e está com uma liberdade sem direção?
A partir do momento que eu não tenho uma direção a ser seguida, qualquer lugar que eu vá está bom.
E será que está?

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Provérbio Árabe

"Não diga tudo quanto sabes
não faças tudo quanto podes
não creias em tudo quanto ouves
não gastes tudo quanto tens

porque
quem diz tudo quanto sabe
quem faz tudo quanto pode
quem crê em tudo quanto ouve
quem gasta tudo quanto tem

muitas vezes
diz o que não convém
faz o que não deve
julga o que não vê
gasta o que não pode"

terça-feira, 5 de abril de 2011

A metafísica do ser

É possível compreender a realidade sem reproduzi-la na fantasia?
Hoje foi um dia em que tive algumas reflexões acerca dos comportamentos da humanidade. A impressão que tive foi a de que, na ânsia de chegar (ou pelo menos sentir que chegará) o mais próximo da perfeição, o ser humano se perde cada vez mais em suas fantasias.
Estava lendo a revista Época desta semana, quando me deparei com uma matéria sobre um site chamado Ashley Madison. Neste site, para se cadastrar, você deve ser casado ou ser comprometido com outra pessoa. Isso mesmo, a idéia que se vende no site é a traição.  
- Neste momento, vou tratar no blog à traição do senso comum (quem sabe nos próximos posts falarei mais sobre o assunto). –
A matéria termina dizendo que o site jamais incentivaria o ser humano a fazer outra coisa se não aquilo que ele já tem uma predisposição a fazer.
E aí eu comecei a me perguntar... Se eu tenho uma predisposição a comer um doce (e como tenho), não fico com mais vontade vendo aquela propaganda com chocolates deliciosos? Se estou com sede e vejo aquela propagando com uma água geladinha, etc. etc. Agora, mais afundo... Qual o ser humano que não tem essa predisposição? Afinal, somos filhos de uma natureza instintiva domados por uma moral social, essencial e histórica. Que pelo o que vejo hoje, está se perdendo na falta de limites e bom senso. Todos os seres humanos têm a predisposição para satisfazer as necessidades básicas, entre elas a fantasia sexual (independente se a nomenclatura vier como traição). O que se trata aqui é de necessidade básica, o sexo. A procriação e o instinto de preservar a espécie. Assim como outros sites que também trabalham com os desejos inconscientes e as satisfações básicas humanas (de ser aceito, reconhecido, notado).
Aqui deixamos de falar da traição para falar sobre a forma de relacionamentos atuais. A empatia está sendo deixada cada vez mais de lado para a busca do alívio imediato, do prazer momentâneo. Novamente me questiono, onde está o significado em um ato deste? Trair virtualmente é ainda pior, pois permite que a pessoa fique isolada e impossibilitada de influências que a possam fazer pensar. E é esta a realidade que estamos vivendo, o estímulo da individualidade sendo o alvo do dia-a-dia. Não se existe o contato físico. As sensações se limitam ao próprio ser humano, por isso a internet de hoje é tão atrativa. Eu posso fomentar os meus próprios pensamentos e sentimentos (sem entender conscientemente que estou sendo influenciado de alguma forma) achando que sou o maior do mundo. E procurando ser reconhecido como tal através da aprovação dos meus “amigos”.
As redes sociais, embora tenham as suas vantagens, funcionam como a ferrugem do relacionamento interpessoal. Ela está corroendo as habilidades da comunicação, da vontade de estar junto e trazendo a fragilidade de poder suportar os defeitos alheios, os quais virtualmente não sou obrigado a agüentar.
Quem não busca a perfeição mesmo que inconscientemente? Nenhuma influência é totalmente real, ela sempre irá conquistar primeiro na fantasia.
É necessário plantar uma idéia para poder colher uma atitude.

domingo, 3 de abril de 2011

...

No mesmo rio nós pisamos e não pisamos.
Não se pode pisar duas vezes no mesmo rio.
Tudo flui e nada permanece.
Tudo cede e nada se fixa.
As coisas frias tornam-se quentes, e as quentes, frias.
O úmido seca, o ressecado umidece.
É pela doença que a saúde da prazer, pelo bem que o mal apraz, pela fome, a saciedade; pela exaustão, o repouso.
É a mesma e uma só coisa estar vivo ou morto, desperto ou adormecido, jovem ou velho. Em cada caso, o primeiro aspecto torna-se o último, e o último, novamente o primeiro, por uma súbita e inesperada reversão.
Eles se separam e depois se unem novamente.
Tudo vem na estação certa (HERÁCLITO in OSHO, 1976, p. 237)

sábado, 2 de abril de 2011

Lenda...

"Uma lenda conta que, depois de haver criado a raça humana, os deuses entraram numa discussão a respeito de onde esconder as respostas para as questões da vida, para que os homens se vissem forçados a procurá-las.
- Podemos escondê-las no topo de uma montanha. Eles nunca irão procurar lá - disse um deus.
- Não - disseram os outros - Eles logo as encontrarão.
- Podemos ocultá-las no centro da Terra. Eles nunca irão procurar lá - sugeriu outro deus.
- Não - replicaram os outros. - Eles logo as encontrarão.
Então outro deus disse: - Podemos escondê-las no fundo do mar. Eles nunca irão procurar lá.
- Não - disseram os outros. - Eles logo as encontrarão.
Todos se calaram...
Depois de algum tempo, outro deus sugeriu: - Devemos, então, colocar as respostas às questões da vida dentro dos homens. Eles nunca irão procurar lá.
E assim fizeram."

Vida

Grandes pensadores da história da humanidade já tentaram explicar o que acontece com o ser humano durante a vida. O que nos move? Por que estamos aqui? Por que existe o sofrimento, a morte, o amor? Da onde vem o desejo de poder? De querer até mesmo ensinar a outro ser humano como se de viver?
É hipócrita pensar que existem pessoas que acham que devem ensinar o que se deve ou não fazer a outras. Inclusive se perfazem de prévios conceitos existes de vida para julgar as atitudes alheias. Quem inventou o certo e o errado?
Para Schopenhauer, os seres humanos vivem porque sentem vontade. E essa vontade é vivida através das representações. Além de Schopenhauer, muitos outros tentaram explicar as origens dos sentimentos para justificar nossos comportamentos, Locke com suas teorias empíricas, Freud com sua teoria do desejo e do inconsciente, Skinner com a teoria da aprendizagem comportamental, e assim por diante. Na humanidade sempre existiram os seres pensantes, os ignorantes e os aproveitadores. Os últimos usufruindo dos primeiros para dominar os segundos. Foi assim com o imperialismo, clero, burguesia, iluminismo e o que vemos hoje com a política. A tentativa da massificação e dominação.
O espaço muda, mas a essência não.
Antigamente as pessoas tinham objetivos claros, seja para lutar pela liberdade de expressão, para esclarecer os comportamentos da humanidade, para poder escolher livremente um parceiro, para fugir de uma sociedade repressora, de um ditador ou qualquer outra prisão social. Existia um valor, uma fantasia e um desejo do que viria depois.
Hoje o que vemos na humanidade são vidas sem objetivos. Essa fantasia do que vem depois não existe, pois hoje se tem tudo facilmente. Assim como vem fácil, vai fácil. O mundo está perdendo seus significados. As relações estão líquidas, pois se pensa que a próxima relação será sempre a melhor - É engraçado, porque falando essa frase me veio na cabeça a famosa frase de Enzo Ferrari quando lhe perguntaram qual é a melhor carro na opinião dele, e ele disse: “É a próxima Ferrari”. Não só no contexto organizacional (que seria um ótimo motivador) mas na vida pessoal as pessoas estão ansiosas para o que virá e pouco aproveitando o que existe.
A riqueza está no hoje, no que somos e não no que temos. De que adiante o “ter” se a pessoa não sabe qual é o sentido do “ser”? Ela nunca irá se contentar tenha o que tiver.
É de se pensar aonde vai parar essa geração delivery que tende a viver em famílias mosaico, desestruturadas, sem papéis, e com relações supérfluas sem significados.
Mas de que adianta refletir se isso que vivemos hoje é certo ou errado? Ou mesmo julgar as novas constituições de famílias e relacionamentos?
Felizes os que não pensam e conseguem se contentar na "fantasia desta realidade”.
Ah se Schopenhauer estivesse vivo para ver as representações dos seres humanos de hoje...

"Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência"  - Arthur Schopenhauer