Eis um fantástico filme que traz a problemática do ser humano!
O filme retrata a história de 2 homens e 2 mulheres. Todos eles possuem algo em comum: uma estrutura frágil, um ego dependente do Outro e uma Persona enfática.
A atriz Julia Roberts interpreta a personagem Anna, fotógrafa bem sucedida que foi deixada pelo ex-marido, pois o mesmo a trocou por uma mulher mais jovem. Ela demonstra ser uma pessoa séria, ética, trabalhadora, comprometida e reservada. Levemente depressiva.
O ator Jude Law interpreta o personagem Dan, escritor que publicou recentemente uma obra baseada na vida da moça com quem vive, Alice. Tem uma visão crítica da sociedade e é um homem sensível, que com freqüência no filme acessa um complexo - em diversos momentos mostra a fragilidade frente a situações que tem a sensação de abandono. Em alguns momentos é apresentado no filme como o Herói (Cupido).
Alice, interpretada pela excelente atriz Natalie Portman (recentemente soube que ela é formada em Psicologia, isso explica algumas questões, ou melhor, isso gera mais questões) é uma menina doce, dependente, apaixonada, trabalha como garçonete e a principal razão da vida dela é o amor que sente pelo Dan. Porém, Alice é uma identidade assumida pela pessoa que tem o nome verdadeiro de Jane Jones.
Larry, interpretado pelo ator Clive Owen, é um médico dermatologista (talvez mera coincidência) que demonstra ser um homem com características perversas, fissurado em sexo, poder e que se auto define como o observador clínico das pessoas. Julga-se e busca ser melhor que os outros, principalmente se forem homens. Demonstra ser uma pessoa mais instintiva, porém racional (se é que isso é possível).
O romance começa com o encontro de Dan com Alice, uma menina rebelde que está machucada precisando de ajuda, dentro de um hospital, onde a função de cuidador aparece quando Alice está com o joelho machucado e Dan a ajuda. Neste momento ela se entrega ao “herói” que vai tirá-la desta situação crítica. Ela se sentiu tão protegida que entrega sua alma a esta relação fantasiosa.
O problema surge quando, um tempo depois, Dan precisa tirar fotos para o seu livro e procura Anna. Logo no primeiro encontro ele se interessa por ela, lógico, ela tem a aparência de uma mulher bem resolvida, forte, decidida e bela. Uma visão TOTALMENTE projetiva. Ela, que se insere o tempo todo como vítima (mesmo sem fazer isso conscientemente), se interessa pelo Dan também, pois ele a desafia. Ele desafia suas convicções e a faz entrar em contato com o lado sombrio até então adormecido. Os dois se beijam e descobrem ali um novo sentimento de completude (perigoso). Tão perigoso que, essa sensação de completude permeia todos os relacionamentos que ocorrem no filme.
Alice chega no studio de fotografia após a cena do beijo e percebe a situação. Ela começa a ver a sua fantasia sendo ameaçada e mostra ainda mais a sua dependência em relação a Dan, ao pedir para Anna tirar uma foto dela chorando.
Paralelo a isso, Dan para satisfazer o seu desejo pela Anna, entra na internet e conversa com um estranho, chamado Larry, fazendo-se se passar pela mesma. Satisfaz todas as fantasias momentâneas naquele instante, e para fechar marca um encontro no local chamado Aquário.
Porém, Anna, coincidentemente está no local na hora do encontro e conhece o homem estranho da internet que ela (que não era ela) conversou pela internet. Os dois acabam se entendendo e começam uma relação. Nesta ocasião o papel que é enfatizado é o de Dan, como o Cupido. Novamente, o interesse de Anna por Dan só aumentou. O Cupido é a figura de Eros na mitologia. Aquele que traz o amor, que é belo, angelical.
Anna, para fugir da imoralidade e das tentações proibidas, resolveu casar-se com Larry, mesmo não o amando e sentindo-se sozinha. Porém, com o passar do tempo resolve entregar-se a paixão por Dan.
Assim eles mantêm esse triangulo por um ano, quando decidem – Anna e Dan – contar aos respectivos que irão abandoná-los para viver a paixão a dois. Neste momento todas Personas do filme se INTENSIFICAM e é aí a diferença deste filme, que por isso é tão brilhante. Normalmente, no momento da crise o que aconteceria em um filme com um raciocínio ideológico, é a descoberta, a mudança. Porém, neste não ocorre.
Enquanto Anna e Dan se juntam, Larry se afunda cada vez mais no seu desejo de reconquistar Anna para mostrar-se superior a Dan e Alice foge da sua dor “desaparecendo” socialmente, sendo stripper em uma boate.
Nos encontros e desencontros do filme, Anna decide se divorciar de Larry, que então, lhe faz um último pedido: que ela faça sexo com ele. E ela aceita. Ela aceita porque se coloca no papel da vítima, no papel que faz parte da zona de conforto dela. Porque ela precisa sentir que está sendo punida de alguma forma. E então, Larry satisfaz sua vingança, pois sabe que este é o complexo de Dan – a sensação de abandono, o estar com o outro, deixar que o corpo seja dominado por outro. Incapaz de aceitar essa idéia, Dan abandona Anna e procura Alice novamente.
Porém, Alice não é mais a mesma. E nesta história (na minha opinião) foi a única que conseguiu transcender. Assumiu sua verdadeira identidade e prosseguiu sozinha na vida, mas desta vez segura de si.
Já Anna, voltou para Larry na mesma história sem graça que viviam antes (vitimizou-se novamente). Ambos ficaram sozinho a dois! Isso demonstrado claramente na última cena em que os dois estão na cama, mas sozinhos consigo mesmos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário